Esse pequeno fruto da palmeira Euterpe oleracea Martius, popularmente conhecida como palmeira Jussara, já está presente na dieta brasileira há muitos anos. Seja na forma de creme gelado com granola, frutas e caldas cheias de açúcar, como é conhecida pelo Brasil e pelo mundo inteiro, ou o típico açaí paraense, este acompanhado de peixe frito e farinha. 

O açaí tem um riquíssimo valor nutricional. Diversos estudos avaliaram a composição e os efeitos da polpa e até da semente do açaí na prevenção e tratamento de doenças renais, cardiovasculares, obesidade e diabetes. Tais estudos são importantes para apresentar melhores formas de consumo do açaí e para identificar o exato mecanismo pelo qual o açaí protege o organismo. Possivelmente, no futuro tais estudos servirão de base para o isolamento de compostos de alto valor terapêutico que poderão ser comercializados como remédios que aumentaram a qualidade de vida da população. 

A polpa

Imagem cedida por News24tas

A polpa do açaí é rica em composto fenólicos, carboidratos, fibras, minerais e ácidos graxos insaturados, estes componentes tem sua composição influenciada pela composição do solo da região do cultivo e período de colheita. 

A revisão bibliográfica realizada por Dra. Alyne L. Cardoso do grupo da pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina, doutora Patrícia Di Pietro, reuniu diversos estudos sobre a capacidade antioxidante, anti-inflamatória, probiótica e cardioprotetora da polpa do açaí.  

Entretanto deve-se ter em mente que o consumo da polpa do açaí associado a alta quantidade de açúcar é como tirar água de um barco furado. Não adianta ingerir um alimento tão rico em componentes benéficos para saúde em conjunto com outro componente que aumenta o índice glicêmico e fornece um alto aporte calórico que será transformado em gordura e acumulado pelo nosso organismo.

A semente

Imagem cedida pela Associação Rede de Sementes do Xingu

Atualmente a semente do açaí tem sido utilizada para a confecção de missanga, entretanto o grupo dos pesquisadores Roberto de Moura, Ângela Resende e Julio Daleprane da Universidade Estadual do Rio de Janeiro tem dedicado anos ao estudo dos efeitos benéficos do extrato da semente do Açaí no tratamento e prevenção de doenças associadas à obesidade. 

Estudo realizado pela Dra. Patrícia Trindade e colaboradores, demonstrou a capacidade do extrato da semente do açaí em reduzir o amadurecimento,  multiplicação, e crescimento de células de gordura isoladas (estudo in vitro). Em experimento paralelo, o extrato da semente do açaí reduziu o peso corporal e obesidade central sem alterar o consumo alimentar de camundongos que consumiam uma dieta rica em gordura. 

Pessoas obesas têm grande tendência de desenvolver a doença diabética renal e a esteatose/fibrose hepática causada pelo acúmulo de gordura no fígado e inflamação. Essa doenças causam grande impacto na qualidade de vida do paciente. Em casos graves, os doentes dependem de hemodiálise e transplante de fígado para sobreviver. Diversas pesquisas têm sido realizadas para encontrar remédios que previnam ou desaceleram o avanço dessas doenças. Aqui, mais uma vez o extrato da semente do açaí tem demonstrado resultados positivos e promissores.

Em estudo realizado pela Dra. Viviane Cordeiro e colaboradores, utilizando um modelo experimental de obesidade induzida por uma dieta rica em gordura associada a diabetes induzida pela destruição de células produtoras de insulina, eles demonstraram que o tratamento com o extrato da semente do açaí é capaz de prevenir o desenvolvimento da doença renal diabética e a hipertensão decorrente da deterioração renal. 

Utilizando extrato da semente do açaí na forma de farinha (aumenta a praticidade de distribuição e adoção a dieta) a Dra. Renata da Silva e colaboradores demonstraram que 12 semanas de consumo da farinha da semente do açaí não reduz o consumo da dieta rica em gordura, mas reduz o peso corporal e a gordura corporal. O açaí também reduz triglicerídeos e colesterol séricos. Outro resultado benéfico foi sobre a função hepática, o tratamento reduziu as transaminases hepáticas e o acúmulo de gordura no fígado. A prevenção da deterioração hepática deu-se principalmente pela perda fecal de colesterol. A dieta com menor concentração de extrato de açaí utilizada no estudo continha 150 gramas de farinha em 1 kg de ração, uma estimativa simples aponta que os camundongos consumiram em média 0,9 gramas de farinha por dia. Isso equivale, em uma conta grosseira, a 700g de farinha por dia para um adulto de 50 quilos. Esse experimento prova a viabilidade funcional da farinha da semente do açaí, no entanto dada a quantidade a ser consumida, torna difícil a adoção. Entretanto esse estudo dá embasamento para terapias nutricionais utilizando uma menor quantidade da farinha de açaí associada a uma dieta saudável, ou para o isolamento e comercialização do componente responsável por esses resultados benéficos.

O ponto mais relevante dos estudos com o extrato/farinha da semente do açaí é que os efeitos parecem ser locais e não dependem de uma ação no cérebro. Pelo menos o que foi provado até então. Mais estudos são necessários para demonstrar a eficácia e as consequências a longo prazo do uso do extrato da semente do açaí sobre doenças associadas à obesidade – que chamamos de doenças metabólicas – esteatose/fibrose hepática, doença renal diabética e doenças cardiovasculares.  

Por favor me digam onde eu encontro a farinha feita da semente do açaí.